As chuvas que atingiram o Sudeste durante o fim de semana deixaram pelo menos 23 mortos em cidades do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Com o fim do verão e das ondas de calor, análises já apontavam a possibilidade de grandes acumulados nos quatro estados da região. Alertas para os riscos estavam sendo divulgados desde a última semana pelos governos a partir da análise de órgãos que acompanham o clima.
As chuvas em questão se formaram a partir do choque entre uma frente fria e massas de ar quente concentradas na região, segundo o que explica Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Tínhamos uma situação típica de verão. Muito calor, umidade, pancadas de chuva. Na quinta-feira se formou uma frente fria vinda do sul com características de outono, mais intensa, com massa de ar mais fria e que se deslocava muito rapidamente”, relembra.
Apesar de estar se movimentando com rapidez até então, a frente fria estacionou sobre o Rio de Janeiro, local onde as chuvas apresentaram grande volume. “Ela foi perdendo velocidade, uma característica normal das frentes frias, e acabou parando ali. É por isso que as chuvas foram mais intensas. Não choveu em São Paulo, por exemplo, como no Rio de Janeiro”, detalha o coordenador.
Petrópolis, cidade da região serrana fluminense, chegou a registrar 321mm de chuva em 24 horas no sábado. A cidade teve oito vítimas fatais devido a deslizamentos de terra que atingiram o município.
Caetano Mancini, meteorologista do Tempo OK, destaca que as ocorrências do fim de semana são consideradas eventos extremos, apesar disso, essas situações não são incomuns para a fase do ano. “Normalmente, eventos de chuva que acontecem após intensas ondas de calor têm a possibilidade de protagonizar cenários como esse. A atmosfera fica com muita energia acumulada e o calor funciona como espécie de combustível para as chuvas”, afirma.
Segundo prognósticos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os próximos meses serão marcados pela queda no volume de chuvas e aumento na intensidade das frentes frias. Isso porque, o outono, iniciado na quarta-feira, 20, é uma estação de transição entre o clima chuvoso e quente do verão e o período frio e seco do inverno.
A estação irá marcar ainda o fim do El Niño, evento que aquece de forma anormal as águas do Oceano Pacífico. Apesar de ainda estar atuante, esse fenômeno não teria relação direta com a formação das chuvas registradas no fim de semana. Segundo Seluchi, as massas de ar quente e úmida que foram observadas no sudeste são típicas do verão e acontecem independente do El Niño.
Como pano de fundo de eventos extremos como os observados no fim de semana, Mancini destaca os impactos das mudanças climáticas. “É uma espécie de fio condutor para que tenhamos maior frequência de eventos extremos, sejam chuvas intensas, secas severas, ondas de calor e frio. Isso deve ser mais frequente ao longo dos próximos anos”, afirma.
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